Friday, June 02, 2006

[[R]EXISTIR]








Aqui construiremos as nossas casas!, in Underground, de Emir Kusturica (realizador)
Usa a tua cabeça como fonte de abrigo!, Nuno Marcelino (recluso/aluno do EP)





[R]EXISTIR é um projecto pluridisciplinar, de formação e criação artística contínua em Dança e Teatro, desenvolvido nos Estabelecimentos Prisionais de Castelo Branco, desde 2001, que apresenta como premissa a educação pela arte.
O projecto tem como objectivos a promoção da criatividade e a reflexão sobre a relação entre a arte e a vida, contribuindo desta forma para o desenvolvimento pessoal e interpessoal dos reclusos.
A metodologia baseia-se no cruzamento entre as artes pré-formativas, as artes plásticas e a escrita, para o trabalho prático, cujo objectivo final passa pela construção de um espectáculo a ser apresentado. A prática é dividida em 3 fases: dramaturgia/ exploração, composição e montagem/ ensaios e apresentação do produto final. De forma global, pretende-se:
Desenvolver o conhecimento e gosto das/pelas expressões artísticas;
Reconhecer a criação artística como instrumento de apropriação da realidade e expressão de um modo de ver/sentir/pensar particular;
Reconhecer a natureza prática e experimental da actividade artística;
Aumentar a consciência do eu, do grupo e da relação com o(s) outro(s);
Fomentar a responsabilidade, individual e grupal;
Contribuir para a valorização pessoal e social dos reclusos.
Esta dinâmica grupal valoriza a comunicação, como processo que se destina a assumir de partilha, de reciprocidade e de responsabilidade mútua. Os alunos tornam-se agentes da sua própria formação, valorizando as características únicas de cada um e as possibilidades de comunicação, de expressão de ideias e de sentimentos, dando lugar à experimentação e apropriação dos conceitos e técnicas abordados ao longo do trabalho.
Liberdade e responsabilidade, consciência individual e colectiva são os temas fortes das aulas, onde os reclusos, para além de um trabalho intenso de tomada de consciência do corpo, individualmente e na relação com os outros, trabalham textos de Beckett, Shakespeare, Alberto Pimenta e Jorge Amado, e filmes de Emir Kusturika, Luciana Fina, Pina Bausch, etc.
A formação é associada a um conjunto de acções complementares que visam estreitar relações com a instituição prisional através da participação nas actividades culturais e recreativas dos Estabelecimentos e criar pontes com o exterior (estabelecimentos prisionais, outros artistas e comunidade/público).

Concepção de Filipa Francisco e Elizabete Paiva Coordenação de Filipa Francisco Apoio de Maria Belo Costa e Lurdes Calçada (Psicóloga - Estabelecimento Prisional de Castelo Branco) Monitores Filipa Francisco, António Carallo, Bruno Cochat, Paula Castro, Rui Sena, Luciana Fina, Joana Bárcia, Francisco Campos, Maria Belo Costa Produção de CENTA [Centro de Estudos de Novas Tendências Artísticas] Produção executiva de Maria Belo Costa Parceiros Jangada de Pedra, Projecto Ser Dona de a a W (promovido pela Liga Portuguesa de Profilaxia Social), Estabelecimento Prisional de Castelo Branco Imagem de Pedro Fonseca



[HISTORIAL]
O contacto de Filipa Francisco com o Estabelecimento Prisional de Castelo Branco teve início em 2001 quando uma professora do estabelecimento inscreveu as suas alunas no ateliê “Riso”, integrado no Programa de Formação Artística para Jovens da Beira Baixa e do Alto Alentejo que o CENTA promove.
Este ateliê foi concebido no contexto do projecto coreográfico “Riso” que a criadora desenvolveu, durante dois meses, em residência no CENTA. O interesse pela continuação deste trabalho por parte da coreógrafa, começou a abrir perspectivas de realizar períodos mais longos de formação, criando um entusiasmo crescente nos reclusos, nos professores, na direcção do Estabelecimento Prisional e no CENTA. O ateliê “Riso” só foi frequentado por mulheres, situação que se manteve em 2002; em 2003 a formação já abrangeu homens e mulheres e desenvolveu-se à volta do espectáculo “Nu Meio”, da autoria de Filipa Francisco e Bruno Cochat, exibido no Estabelecimento Prisional na festa de Natal de 2003.
Ao cabo de 3 anos o CENTA e o Estabelecimento Prisional de Castelo Branco assinaram um protocolo de colaboração formalizando as suas relações na área da formação artística. Entre Janeiro e Maio de 2004 desenvolveu-se pela primeira vez um período de trabalho de quase 5 meses, 2 horas por semana e, a partir de materiais produzidos pelos(as) próprios(as) reclusos(as), foram apresentadas duas “peças” em Maio, na Semana do Coração, no Estabelecimento Prisional, “Peças para rir e chorar”.
Liberdade e responsabilidade, consciência individual e colectiva foram os temas fortes das aulas, onde os alunos para além de um trabalho intenso de tomada de consciência do corpo, individualmente e na relação com os outros, tiveram acesso a textos de Beckett, Shakespeare, Alberto Pimenta e Jorge Amado, e filmes de Kusturika e Luciana Fina.
Nesta fase de trabalho apoiaram a realização do projecto a Jangada de Pedra e a Coordenação da Área Educativa de Castelo Branco. Na sequência desta formação, e reunindo pequenos apoios concedidos pelo Governo Civil de Castelo Branco, pela Coordenação da Área Educativa de Castelo Branco e pelo próprio CENTA, foi realizado um bloco de aulas em Novembro e Dezembro de 2004. Partindo dos mesmos pressupostos do período de trabalho anterior, e já com a colaboração de Elisabete Paiva, resultou daqui uma nova criação, apresentada na Festa de Natal do Estabelecimento Prisional. Apesar das aulas serem dadas separadamente, conseguiu-se, pela primeira vez, que os reclusos e as reclusas estivessem juntos em palco, formando uma mesma peça a partir de cenas alternadas entre os dois grupos.
Em 2005 [R]existir desenvolveu-se ao longo de todo ano e o trabalho com o grupo das mulheres incidiu na peça "1980" de Pina Bausch, enquanto os homens escolheram "A Boda" de Bertolt Brecht para encenarem. Estas peças foram pela primeira vez apresentadas fora do Estabelecimento Prisional, no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco.