2ª fase de organização e edição de imagens para o próximo documentário de longa-duração.
Venho sozinho, com o estúdio às costas, uma mala cheia de cassetes e uma sociedade-odisseia para organizar.
Ilha do Corvo-Açores, pleno Oceano Atlântico, 17km2 de superficie, 440 habitantes, 353 eleitores, uma vila, 8km de estrada. Em três meses durante cerca de um ano eu na câmara e o Didio Pestana no som descobrimos, recolhemos e catalogámos 150 horas de imagens, 260 horas de som. Título provisório: “é na terra não é na lua”.
“Imaginem um homem lançado num rochedo a meio do Oceano Atlântico entre a Europa e a América, depois de uma viagem inciática e solitária num pequeno barco.
Este rochedo não está vazio, é habitado por uma microsociedade, laboratório da sociedade ocidental, montra e espelho de um país chamado Portugal. Os tempos duros de esquecimento e auto-subsistência já lá vão, a sociedade primária e rural transformou-se. Poderia pensar que o contexto natural e geográfico desta ilha imponente, agreste e misteriosa levaria à construção de um outro tipo de vida, de uma alternativa à sociedade, mas isto é só um delirio de pirata. Claro que ninguém quer viver a lutar para sempre com quase nada. A periferia Corvo aproxima-se do poder central (Lisboa-Portugal-UE) imitando-o por excesso. Aqui assisto em directo à evolução rápida de um país.”